Julho com 1,9%: o que mudou
Pela terceira vez seguida, a inflação mensal na Argentina ficou abaixo de 2%. Em julho, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Indec subiu 1,9%, e a taxa anual caiu para 36,6% — o menor patamar desde dezembro de 2020. Para um país que saiu de inflação de três dígitos recentemente, o número não é apenas bom: marca uma virada no humor de consumidores e empresas em meio a um ajuste difícil.
No acumulado do ano, a alta de preços chegou a 17,3%. O núcleo da inflação — que exclui itens sazonais e regulados — desacelerou para 1,5%, o nível mais baixo desde janeiro de 2018. É o terceiro mês seguido de alívio no núcleo, sinal de que as pressões de fundo estão cedendo. O governo de Javier Milei, com o ministro da Economia, Luis Caputo, celebrou os dados, vendo neles a prova de que o aperto fiscal e o freio monetário vêm ganhando tração.
Setor a setor, houve dispersão. “Recreação e Cultura” liderou a alta mensal, com 4,8%. “Transporte” e “Restaurantes e Hotéis” vieram em 2,8%. “Alimentos e bebidas não alcoólicas” avançou 1,9% e, por ter o maior peso na cesta, foi o principal motor do índice. Já “Vestuário e Calçados” foi a única queda, com -0,9%, ajudando a amortecer o resultado geral.
- Recreação e Cultura: +4,8%
- Transporte: +2,8%
- Restaurantes e Hotéis: +2,8%
- Alimentos e bebidas: +1,9% (maior impacto no índice)
- Vestuário e Calçados: -0,9%
Outro ponto que chama atenção: a desvalorização de cerca de 14% do câmbio no fim de julho teve efeito limitado no mês porque aconteceu muito tarde para contaminar preços de forma ampla. Analistas e o próprio Indec sinalizam que o repasse deve aparecer com mais força no dado de agosto, principalmente em bens transacionáveis e em serviços que embutem custos dolarizados.
Quando se olha a fotografia mais longa, o alívio fica mais claro. A inflação média mensal no trimestre ficou em 1,7% — o menor ritmo em oito anos, algo como 22% anualizado se mantido. A inflação média em 12 meses também cedeu, de 96,0% em junho para 82,8% em julho. O número anual cheio, de 36,6%, ainda é alto para padrões regionais, mas está longe do pico recente e aponta para uma trajetória de normalização que o país não via há muito tempo.
Os motores por trás da desaceleração e os riscos adiante
Por que o número veio tão baixo? Três fatores pesaram. Primeiro, demanda fraca: famílias ainda sentem o aperto no bolso, o que reduz o repasse de custos pelas empresas. Segundo, disciplina fiscal e monetária: o governo vem segurando gastos e moeda, o que ajuda a esfriar a economia e as expectativas. Terceiro, correção de preços relativos mais avançada em alguns setores, após reajustes fortes no início do ciclo.
O núcleo em 1,5% reforça a leitura de que o processo não é apenas “efeito sazonal”. Ele capta bens e serviços menos voláteis e, por isso, serve como termômetro do que vem pela frente. Se o núcleo segue cedendo, as chances de o índice cheio manter tendência de queda aumentam — sempre que choques pontuais (câmbio, tarifas, combustíveis) não entrem no caminho.
No curto prazo, a lista de riscos é clara. O repasse do câmbio de fim de julho tende a bater em agosto. Reajustes de preços administrados podem voltar a pesar, dependendo do cronograma de tarifas de energia, transporte e combustíveis. A recomposição de salários nas negociações coletivas também pode acelerar certos serviços. E, se a atividade reagir um pouco, empresas ganham fôlego para recompor margens.
Mesmo assim, a dinâmica dos últimos meses mostra que a desinflação ganhou base mais ampla. Itens de alimentação — com peso dominante no orçamento das famílias — perderam velocidade; bens de vestuário ficaram mais baratos; e serviços, tradicionalmente mais teimosos, também caminham para baixo, ainda que de forma mais lenta que os bens.
Para o dia a dia, o que muda? Com inflação menor, o salário real para de derreter tão rápido e algumas decisões voltam a caber no planejamento: consertar o carro, trocar um eletrodoméstico, pensar em crédito. Empresas conseguem precificar com menos sobressaltos e alongar prazos. E o próprio governo ganha alguma folga para calibrar políticas sem o relógio da inflação correndo contra.
Há, porém, um teste importante no horizonte. Se agosto trouxer um repique com o câmbio, o mercado vai olhar mais para a tendência do núcleo do que para o número cheio. Se o núcleo ficar comportado, o processo de desinflação segue vivo. Se acelerar, volta a dúvida sobre a velocidade — e até a durabilidade — desse ciclo.
No comparativo regional, a Argentina ainda opera acima de vizinhos como Brasil e Chile, que estão em um dígito anual. Mas a distância encolheu. O dado de julho recoloca o país em um patamar que permite discutir metas e ancoragem de expectativas sem a urgência de apagar incêndios todos os meses.
O saldo de julho é um retrato de transição: sinais sólidos de melhora, riscos conhecidos no curto prazo e um debate aberto sobre qual será o piso da inflação na Argentina neste novo ciclo. Para quem acompanha a economia do país, o dado vale menos pela surpresa e mais pela consistência — três meses seguidos abaixo de 2% não acontecem por acaso.
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