Diversidade cultural, patrimônio e cidade são discutidos em seminário
Diversidade Cultural, patrimônio e cidade foi o tema debatido na segunda mesa no primeiro dia, 26, do III Seminário Políticas para Diversidade Cultural, que teve como convidadas Catherine Cullen, representante da Agenda 21 da Cultura (França), Cecília Londres, do IPHAN, e Márcia Sant’Anna, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A mediação ficou a cargo do professor Paulo Miguez.
Abrindo a discussão, Catherine Cullen expôs as necessidades de se considerar a cultura enquanto quarto pilar do desenvolvimento sustentável. De acordo com a pesquisadora, apenas as dimensões sociais, econômicas e ambientais são consideradas. Segundo dados expostos por Catherine, atualmente, 50% das pessoas vivem nas cidades e, em 30 anos, esse número chegará a 70%. Por essa razão é necessário colocar “a cultura no centro do desenvolvimento futuro”, ressalta, afirmando que cada cidade cria modos de valorização da cultura local. Entre os exemplos apresentados, Catherine destaca a cidade de Lille, na França, que depois de experimentar o seu apogeu e declínio industrial e econômico, conseguiu se transformar na capital cultural, a partir de ressignificação de construções urbanas abandonadas. No total, foram 12 fábricas que se tornaram espaços culturais bem sucedidos. “Este era um lugar de importância, com um valor simbólico relevante”, identifica.
Na sequência, Cecília Londres trouxe algumas reflexões sobre a questão da diversidade cultural no campo do patrimônio. De acordo com ela, em 1972, quando a Unesco formalizou a convenção que salvaguarda o patrimônio material, a questão dos bens imateriais ainda não estava contemplada, além de ser um documento predominantemente eurocêntrico. A partir de 1994, houve uma redefinição nesse cenário, quando se passou a entender enquanto bem imaterial as práticas consideradas autênticas por aqueles que pertencem à determinada cultura. “O que por muito tempo a Europa considerou enquanto conhecimento bárbaro, tornou-se um conhecimento como qualquer outro”, explica Cecília sobre o avanço no entendimento do patrimônio imaterial. “Esses bens só sobrevivem na medida em que as pessoas decidem em mantê-lo vivo”, completa.
Trazendo os problemas e os desafios referentes aos patrimônios urbanos, a professora Márcia Sant’Anna discorreu sobre a integração dos patrimônios materiais e imateriais nas grandes cidades do país. Há cerca de 40 anos, houve a implantação de uma política de valorização do patrimônio enquanto atração turística. “São ações de cima para baixo de transformação dessas áreas em guetos de turismo e lazer, completamente descolados da vivência. Há uma perda da vida urbana, da cotidianidade, uma falta do uso local da cidade”. Apesar dos grandes investimentos, Sant’Anna afirmou que, do ponto de vista turístico, há a criação de espaços homogêneos e idênticos, além da mercantilização ou destruição de referências culturais. Para ilustrar, ela citou o caso do Pelourinho. “Salvador lançou o último modelo desse tipo de intervenção na década de 90, sucesso de público e mídia, e que foi adotado por quase todo o Nordeste, inclusive com esse apelo promocional das cores”, demonstra. O principal efeito colateral dessa política soteropolitana foi uma exclusão da população de baixa renda dessas áreas e a desvalorização de atividades humanas, mas que ainda resistem no bairro do Santo Antônio, centro histórico vizinho ao Pelourinho.
O III Seminário Políticas para Diversidade Cultural acontece nos dias 26 e 27 de maio, das 9h às 19h. O evento é organizado pelo Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (Pós-Cultura/UFBA), Observatório da Diversidade Cultural (ODC) e a Rede U40 Brasil. Mais informações podem ser obtidas pelo [email protected].
Texto: Ítalo Cerqueira